segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A Criança e a Floresta

[Update 04/09/07] Modificado marcador para "Histórias e Contos"

O barulho da lenha queimando na lareira competia com os sussurros de um monólogo do homem. O tapete de urso pardo que ali estava já fora testemunha de muitos acontecidos importantes, pois a aconchegante sala de pedra verde-escura decorada com pinturas de caçadas era a preferida da figura com cabelos castanhos e cavanhaque que estava naquele momento olhando o fogo dançar, sentado em uma confortável poltrona. Na casa dos quarenta anos – ninguém sabia ao certo – vivia sozinho naquela grande casa. O sozinho dele, é claro, não incluía nenhum dos servos que prestavam serviço ali. "Mal paridos." era o que dizia a respeito.
Duas secas batidas na porta de madeira e um homem de já certa idade maior, presumivelmente um mordomo, diz:
– Senhor Edwards, desculpe interrompê-lo mas um plebeu suplica por sua ajuda do lado de fora.
– O que ele quer? – Responde o homem que ainda fita a lareira de uma maneira um tanto desinteressada.
– A filha dele sumiu há um dia e o grupo de busca da aldeia não encontrou nem sinal dela na floresta. Me parece que ele pedirá vossa... ajuda. – Respondeu de maneira reticente o mordomo.
– Mande-o entrar e traga aquela bebida francesa. Um copo de madeira para ele, e o meu de sempre.
O serviçal virou-se e saiu. Enquanto seus passos podiam ser ouvidos vagamente através da porta de madeira, Edwards jogava mais lenha na lareira. O quadro de cães ferozes atacando covardamente uma raposa pareceu excepcionalmente sinistro com a iluminação oscilante da madeira, como se uma faísca de monstruosidade pudesse ser observada nos olhos dos animais naquela batalha sangrenta.
Passados alguns minutos, as duas batidas secas na porta novamente foram ouvidas e o mordomo entrou acompanhado de um homem de vestes pobres.
– Senhor Edwards, este é o Thomas. Qualquer coisa é só chamar, como sempre. – E após proferir a última palavra, saiu novamente da sala e fechou a porta sem fazer ruído. O costume com o passar dos anos ensinara muitos truques de etiqueta.
Thomas, visivelmente transtornado pelo desaparecimento da filha e intimidado pela presença de Edwards, ficou de pé nos minutos de silêncio que se seguiram nos quais o nobre examinou minuciosamente sua garrafa francesa. Tremendo levemente, por mais de uma vez tentou proferir alguma palavra, mas hesitou e formou fonemas abortados.
– Sente-se. – Disse Edwards enquanto apontou com a mão para uma cadeira menos ornamentada: a dos convidados. Assim que o pobre aldeão se sentou, logo continuou:
– Quando ela desapareceu?
– Ontem pela tarde senhor! – Respondeu nervosamente o homem.
– Você acha que ela está na floresta? – Perguntou Edwards enquanto preenchia a taça de cristal e o copo rústico com a bebida escura.
– Senhor, acho sim senhor. – Uma gota de suor escorreu a testa enrugada de Thomas quando ele fez um leve movimento positivo com a cabeça.
– Qual era o nome e a idade dela? – Virou de uma vez o copo e olhou nos olhos velhos e cansados do plebeu.
– É Mary, tem nove anos! – Thomas deu uma ênfase no tempo verbal da frase. – É uma linda menina loira de cabe... –
– Posso mandar meus homens realizarem uma busca nas florestas quando o dia chegar. É um trabalho dispendioso, mas salvar uma criança é o mínimo que eu devo fazer pelo Nosso Senhor e para vocês da aldeia. Tens fome? – Interrompeu o nobre com uma pergunta.
– Não senhor, já estou muito agradecido pelo ato de bondade que o senhor fez por mim! – E com as lágrimas nos olhos esboçou um sorriso tremido nos lábios rachados e escuros.
– Bem, ao menos beba um pouco comigo homem! – E deu um copo de madeira para Thomas, que prontamente o virou e tentou esconder a estranheza do gosto da bebida.
– Nunca bebeste vinho!? – Edwards disse rindo. – Tudo bem, não o culpo. Agora vá e durma tranqüilo, amanhã meus homens encontrarão tua filha e tudo estará sanado. – E fez um gesto para que o homem saísse.
O plebeu se levantou e foi embora. Já sozinho naquela sala de pedra verde-escura do antigo solar, Edwards fez uma última constatação naquela noite.
– Muito doce, talvez fosse nova demais pro meu gosto... – e enquanto dava um discreto sorriso sarcástico, fitou com a luz da lareira o vermelho-escuro dos resquícios da bebida na taça de cristal.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom!
O final, é muito interessante...

Mas eu dei a nota errada. eu ia colocar Nota 4, mas acabei clicando no 2 (eu não sabia como q funcionava, pensei q fosse um link).

Se tiver como consertar, me avise!

Unknown disse...

nossa eu pago um pau pra esse cara sUhsauhsahsahu

Anônimo disse...

Muito bom, eu devia ter desconfiado, mas cai feito um patinho...

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